As férias de inverno num Brasil que faz pouco frio.

O mês de julho é inverno no Brasil. Um inverno à brasileira. É também o período das férias escolares [1] do meio do ano: 30 dias de descanso para os estudantes recarregarem as baterias para o segundo semestre letivo.

O turismo regional – de carro – é a opção preferida pela classe média brasileira.

As férias de inverno são consideradas alta temporada para a indústria de turismo brasileira. Mais pelo recesso escolar do que pela estação do ano. É verdade que alguns destinos nas serras (Campos do Jordão no Estado de São Paulo – região Sudeste do Brasil, Canela e Gramado no Estado do Rio Grande do Sul – região Sul do Brasil) recebem milhares de visitantes à espera de temperaturas próximas de zero graus (Celsius) e com muita sorte ver a cidade amanhecer com os jardins brancos cobertos de gelo de uma geada. É incomum nevar no Brasil. O fenômeno acontece muito raramente em intervalos de décadas. O inverno no Brasil é percebido nas regiões Sul e Sudeste que registram temperaturas médias entre 9 e 19 graus Celsius. A queda de temperatura é suficiente para os brasileiros destas regiões mudarem seus trajes: saem dos armários casacos pesados e os aparelhos de Fondue.

É por isso que o recesso escolar explica melhor a alta temporada de julho. Para os brasileiros das classes econômicas mais elevadas, é o mês das viagens internacionais: querem aproveitar o verão nos Estados Unidos e também na Europa.

Neste ano, as regiões Norte e Nordeste do Brasil – que não registram quedas de temperatura no mês de julho, apenas chuvas de inverno em algumas regiões – emplacaram algumas de suas capitais entre os destinos escolhidos (como alternativa às viagens internacionais que ficaram menos acessíveis aos brasileiros devido à valorização do Dólar frente ao Real). Os resorts das praias paradisíacas do litoral nordestino brasileiro tiveram elevados índices de ocupação – revelando que uma parcela dos consumidores brasileiros mais afortunados adiou a viagem ao exterior para 2020, à espera de um câmbio mais favorável.

O brasileiro classe média viaja bem menos para o exterior em julho justamente pela ausência de tarifas promocionais das cias aéreas e hotéis. O resgate de passagens aéreas com milhas de cartões de crédito também fica desfavorável para voar em julho. E isto afasta uma parcela importante de brasileiros das filas de embarque de voos internacionais dos aeroportos.

O turismo regional – de carro – é a opção preferida pela classe média brasileira. Resorts, hotéis fazenda, pousadas e inclusive destinos no litoral – que apesar do frio e do mar gelado – são escolhas típicas desses brasileiros que encurtam a viagem e optam mais por finais de semana prolongados. Ao brasileiro de classe média, um final de semana prolongado parece ser suficiente para postar fotos nas mídias sociais com a etiqueta de “férias de julho”.

E a viagem de avião (que deveria ser considerada como meio de transporte) é percebida como uma atração. Viajar de avião é parte da diversão. Sabendo disso as maiores operadoras de turismo do Brasil criam pacotes de viagem para as férias de julho de baixo custo, incluindo a passagem área, como forma de atrair os turistas brasileiros a destinos domésticos (inclusive os menos badalados) que não raro preferem um hotel menos luxuoso para ir de avião do que ir de carro e se hospedar num hotel de categoria superior.

Embora o recesso escolar tenha peso fundamental na temporada de julho, mesmo casais sem filhos e solteiros (que não precisariam esperar as férias escolares das crianças para viajar) também viajam nesta época atraídos pela agitação dos destinos, agendas especiais oferecidas pelas cidades turísticas e promoções exclusivas ofertadas pelas operadoras.

Por fim, é interessante destacar que a cidade de São Paulo, capital do Estado que tem o mesmo nome, figura entre os principais destinos turísticos domésticos. Embora não tenha praia e nem serra para competir com os outros destinos tipicamente turísticos, atrai brasileiros de outras regiões do país por ser a maior cidade brasileira – com arranha céus, paisagem e influência econômica de metrópole – e também pelas promoções na sua rede hoteleira (a 4º cidade com mais hotéis do Brasil). Nesta temporada de julho, a cidade figurou no ranking dos dez destinos preferidos pelos turistas brasileiros.

[1] Tratarei desse assunto no artigo sobre a escola brasileira que vou publicar em breve.